1. O
SIGNIFICADO DE INERRÂNCIA
a.
Não
vamos repetir aqui os argumentos a respeito da autoridade das Escrituras, onde
se afirmou que todas as palavras na Bíblia são palavras de Deus e que,
portanto, não crer em alguma palavra das Escrituras ou não obedecer a ela é não
crer em Deus ou desobedecer a ele.
b.
Afirmou-se
ainda que a Bíblia ensina claramente que Deus não pode mentir nem falar com
falsidade (2Sm 7.28; Tt 1.2; Hb 6.18).
c.
Assim,
todas as palavras nas Escrituras são declaradas completamente verdadeiras e
destituídas de erros, qualquer que seja o trecho (Nm 23.19; Sl 12.6; 119.89,
96; Pv 30.5; Mt 24.35).
d.
As
palavras de Deus são, de fato, o padrão máximo da verdade (Jo 17.17).
e.
Deve-se
reconhecer que a fidedignidade absoluta no discurso é coerente com alguns
outros tipos de declaração, tais como as seguintes:
i. A Bíblia pode ser inerrante e mesmo assim
empregar a linguagem comum da fala cotidiana.
1.
Isso
diz respeito principalmente às descrições “científicas” ou “históricas” de
fatos ou eventos. A Bíblia pode falar que o sol nasce e a chuva cai porque,
pela ótica de quem fala, é exatamente isso que ocorre.
2.
Da
perspectiva de um observador postado no sol (caso fosse possível) ou em algum
ponto “fixo” hipotético no espaço, a terra gira trazendo o sol ao campo visual,
e a chuva não cai só de cima para baixo, como também de um lado para outro ou
de baixo para cima, de acordo com a direção necessária para que seja conduzida
pela gravidade até a superfície da terra.
3.
Mas
essas explicações são irremediavelmente pedantes e impossibilitariam a
comunicação normal. De acordo com a perspectiva de quem fala, o sol nasce e a
chuva cai, e essas palavras descrevem com perfeita veracidade os fenômenos
naturais observados por quem fala.
ii. A
Bíblia pode ser inerrante e mesmo assim conter citações vagas ou livres.
1.
O
jeito de uma pessoa citar as palavras de outra é um procedimento que, em grande
parte, varia de cultura para cultura.
2.
Na
cultura ocidental contemporânea, costumamos citar textualmente as palavras da
pessoa quando as colocamos entre aspas (chamamos a isso citação direta).
3.
Mas
quando empregamos a citação indireta (sem aspas), espera-se um relato preciso
limitado apenas à essência da declaração.
a.
Considere
a seguinte frase: “Elliot disse que logo estaria em casa para jantar”.
b.
A
frase não faz uma citação direta de Elliot, mas é uma expressão aceitável e
veraz do que Elliot disse ao pai: “Volto em dois minutos para comer”, apesar de
a citação indireta não conter nenhuma das palavras originais dele.
iii. É
compatível com a inerrância haver construções gramaticais incomuns ou pouco
usuais na Bíblia.
1.
Algumas
linguagens das Escrituras são elegantes e excelentes quanto ao estilo.
2.
Outros
escritos bíblicos contêm a linguagem natural do povo comum.
3.
Às
vezes isso inclui falhas em relação às “regras” aceitas de expressão gramatical
(tais como o uso de um verbo no plural onde as regras gramaticais exigiriam um
verbo no singular ou o emprego de um adjetivo feminino onde se espera um
masculino ou de uma grafia diferente de uma palavra, etc.).
4.
Essas
declarações irregulares quanto à estilística ou à gramática (encontradas
especialmente no livro de Apocalipse) não nos devem incomodar, pois não afetam
a fidedignidade das declarações em questão: uma declaração pode ser
gramaticalmente incorreta e, ainda assim, inteiramente verdadeira.
2. ALGUNS DESAFIOS ATUAIS PARA A INERRÂNCIA
a.
Nesta
seção, examinamos as principais objeções em geral levantadas contra o conceito
de inerrância.
i. A
Bíblia é a única autoridade em questões de “fé e prática”.
1.
Uma
das objeções mais frequentes é levantada pelos que dizem que o propósito das
Escrituras é ensinar-nos só em áreas que dizem respeito à “fé e prática”, ou
seja, em áreas diretamente relacionadas com nossa fé religiosa ou com nossa
conduta ética.
2.
Essa
posição abriria a possibilidade de declarações falsas nas Escrituras, por
exemplo, em outras áreas, tais como em detalhes históricos secundários ou em
fatos científicos — essas áreas, afirmam os que levantam as objeções, não dizem
respeito ao propósito da Bíblia: instruir-nos quanto ao que devemos crer e como
devemos viver.
3.
Seus
defensores muitas vezes preferem dizer que a Bíblia é “infalível”, mas hesitam em
empregar a palavra inerrante.
ii. O
termo inerrância é um exagero.
1.
Pessoas
que levantam essa segunda objeção dizem que o termo inerrância é exato demais e
que no uso comum denota um tipo de precisão científica absoluta que não devemos
atribuir às Escrituras.
2.
Além
disso, os que fazem essa objeção observam que o termo inerrância não é
empregado na própria Bíblia.
3.
Assim,
é provável que seja um termo inadequado e que não devamos insistir nele.
iii. Não
possuímos manuscritos inerrantes; portanto, é ilusório falar de uma Bíblia
inerrante.
1.
Os
que levantam essa objeção destacam o fato de que a inerrância sempre foi
atribuída aos primeiros exemplares ou aos exemplares originais dos documentos
bíblicos.
2.
Mas
nenhum deles sobreviveu: só temos cópias de cópias do que Moisés ou Paulo ou
Pedro escreveram.
3.
De
que serve, então, atribuir tamanha importância a uma doutrina que se aplica só
a manuscritos que ninguém possui?
iv. Em
detalhes secundários, os escritores bíblicos “adaptaram” suas mensagens às
idéias falsas correntes na época deles, afirmando ou ensinando tais idéias de
modo incidental.
1.
Essa
objeção à inerrância é levemente diferente da que restringe a inerrância das
Escrituras a questões de fé e prática, mas está associada a ela.
2.
Os
que defendem essa posição alegam que seria muito difícil para os autores
bíblicos se comunicarem com o povo de sua época, caso tentassem corrigir todas
as informações históricas e científicas erradas em que acreditavam seus
contemporâneos.
v. A
inerrância superestima o aspecto divino das Escrituras e negligencia o aspecto
humano.
1.
Essa
objeção mais geral é levantada pelos que alegam que os defensores da inerrância
dão tanta ênfase ao aspecto divino das Escrituras, que subestimam o aspecto
humano.
2.
Aceita-se
que a Bíblia possui um aspecto humano e outro divino e que precisamos dar a
devida atenção a ambos.
3.
Entretanto,
os que levantam essa objeção quase que invariavelmente insistem em que os
aspectos verdadeiramente “humanos” das Escrituras devem incluir a presença de
alguns erros nas Escrituras.
vi. Há
alguns erros evidentes na Bíblia.
1.
Essa
última objeção, de que há erros claros na Bíblia, é feita ou insinuada pela
maior parte dos que negam a inerrância e, para muitos deles, a convicção de que
realmente há erros nas Escrituras é um fator importante que os convence a
questionar a doutrina da inerrância.
3. PROBLEMAS
DECORRENTES DA REJEIÇÃO DA INERRÂNCIA
a.
Os
problemas advindos da rejeição da inerrância bíblica não são insignificantes e,
quando compreendemos a magnitude desses problemas, somos encorajados não só a
afirmar a inerrância, mas também a sua importância para a igreja.
b.
Alguns
dos problemas mais sérios são aqui alistados.
i. Se
rejeitarmos a inerrância, teremos de nos confrontar com um problema moral
sério:
1.
Podemos
imitar a Deus e também mentir intencionalmente em questões secundárias?
2.
Isso
se assemelha à discussão em resposta à quarta objeção acima, mas aqui se aplica
não só aos que levantam essa objeção como também de maneira mais ampla a todos
os que negam a inerrância.
3.
Efésios
5.1 nos diz que devemos ser imitadores de Deus.
4.
Mas
uma negação da inerrância que ainda defenda que as palavras das Escrituras são
inspiradas implica necessariamente que Deus nos falou inverdades
intencionalmente em algumas de suas declarações menos centrais das Escrituras.
ii. Se
rejeitarmos a inerrância, começaremos a questionar se realmente podemos confiar
em Deus em tudo que nos diz.
1.
Uma
vez convencidos de que Deus nos falou inverdades em algumas questões
secundárias das Escrituras, vamos perceber que Deus é capaz de nos falar
inverdades.
2.
Isso
terá um efeito nocivo sobre nossa capacidade de aceitar a palavra de Deus e de
confiar nele por completo ou de obedecer a ele plenamente no restante das
Escrituras.
iii. Se
rejeitarmos a inerrância, em essência, estaremos fazendo de nossa mente humana
um padrão de verdade mais elevado que a própria Palavra de Deus.
1.
Empregamos
nossa mente para julgar algumas seções da Palavra de Deus e anunciamos que
estão erradas.
2.
Mas
na prática isso significa que conhecemos a verdade com mais certeza e exatidão
que a Palavra de Deus (ou que o próprio Deus), pelo menos nessas áreas.
3.
Tal
procedimento, que faz de nossa mente um padrão mais elevado de verdade que a
Palavra de Deus, está na raiz de todo pecado intelectual.
iv. Se
rejeitarmos a inerrância, precisaremos também dizer que a Bíblia está errada
não apenas em detalhes secundários, mas também em algumas de suas doutrinas.
1.
A
negação da inerrância implica estarmos dizendo que o ensino da Bíblia sobre a
natureza das Escrituras e sobre a veracidade e fidedignidade das palavras de
Deus é também falso.
2.
Esses
detalhes não são secundários, mas questões doutrinárias centrais nas
Escrituras.
Resumo - Teologia Sistemática. Wayne Grudem, Edições Vida Nova.
Parte 1 - A Doutrina da Palavra de Deus – p. 23 – 96
Resumo - Teologia Sistemática. Wayne Grudem, Edições Vida Nova.
Parte 1 - A Doutrina da Palavra de Deus – p. 23 – 96
Referencia:
- Teologia
Sistemática. Wayne Grudem, Edições Vida Nova. Parte 1 - A Doutrina da Palavra de Deus – p. 23 – 96
ESTE ESTUDO TEOLÓGICO CONTINUA SEMANA QUE VEM.
DEUS TE FAÇA FELIZ!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário