1)
Os
principais ensinos da Bíblia a seu próprio respeito podem ser classificados em
quatro características (às vezes chamadas atributos):
a)
a
autoridade das Escrituras;
b)
a
clareza das Escrituras;
c)
a
necessidade das Escrituras; e
d)
a
suficiência das Escrituras.
2)
A autoridade das Escrituras significa: que todas as palavras nas Escrituras
são palavras de Deus, de modo que não crer em alguma palavra da Bíblia ou
desobedecer a ela é não crer em Deus ou desobedecer a ele.
a)
Todas as palavras nas escrituras são
palavras de Deus
i)
Isso é o que a Bíblia afirma a seu
próprio respeito.
(1) Há muitas afirmações na Bíblia
declarando que todas as palavras das Escrituras são palavras de Deus (ao mesmo
tempo em que são palavras escritas por homens).
(a) No
Antigo Testamento,
isso se vê com frequência na frase introdutória “assim diz o Senhor”,
que ocorre centenas de vezes.
(i)
No
mundo do Antigo Testamento, essa frase seria reconhecida como idêntica em forma
à expressão “assim diz o rei...”,
usada para introduzir um edito de um rei a seus súditos, edito que não poderia
ser desafiado nem questionado, mas simplesmente obedecido.
(ii) Dessa forma, quando os profetas dizem
“assim diz o Senhor” eles
estão reivindicando a condição de mensageiros do soberano Rei de Israel, ou
seja, o próprio Deus, e declarando que suas palavras são palavras de Deus com
autoridade absoluta.
(iii)Quando um profeta falava dessa forma em nome de Deus,
cada palavra dita vinha de Deus, senão ele seria um falso profeta (cf. Nm
22.38; Dt 18.18-20; Jr 1.9; 14.14; 23.16-22; 29.31-32; Ez 2.7; 13.1-16).
ii) Somos
convencidos a aceitar as reivindicações da Bíblia de que ela é a Palavra de
Deus à medida que a lemos.
(1) Uma coisa é afirmar que a Bíblia
alega ser as palavras de Deus.
(2) Outra coisa é convencer-se de que
essas afirmações são verdadeiras.
(a) Nossa convicção definitiva de que as
palavras da Bíblia são palavras divinas vem apenas quando o Espírito Santo fala
ao nosso coração nas palavras da Bíblia e por intermédio delas, dando-nos a
segurança íntima de que essas são as palavras de nosso Criador falando conosco.
(b) Logo depois de explicar que sua
mensagem apostólica consistia de palavras ensinadas pelo Espírito Santo (1Co
2.13), Paulo diz: “... o homem natural
não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode
entendê-las porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2.14).
(c) À parte do trabalho do Espírito de
Deus, uma pessoa não receberá verdades espirituais e, em particular, não
receberá nem aceitará a verdade de que as palavras das Escrituras são de fato
palavras de Deus.
iii) Outros
indícios são úteis, mas não totalmente convincentes.
(1) A seção anterior não foi escrita para
negar a validade de outros tipos de argumento que podem ser usados para
sustentar a afirmação de que a Bíblia é a palavra de Deus.
(a) Para nós é útil saber que a Bíblia é
historicamente precisa, tem coerência interna, contém profecias que se
cumpriram centenas de anos mais tarde, influenciou os rumos da história humana
mais do que qualquer outro livro, vem mudando a vida de milhões de indivíduos
ao longo da história, pessoas encontraram a salvação por meio dela, possui em
seus ensinos beleza majestosa e profundidade que nenhum outro livro pode
superar e afirma centenas de vezes ser a verdadeira palavra de Deus.
(b) Todos esses e outros argumentos são
úteis para nós e removem obstáculos que de outra forma se levantariam contra
nossa fé nas Escrituras.
(c) Mas todos esses argumentos
considerados separadamente ou em conjunto não conseguem ser convincentes de
maneira definitiva.
iv) As
palavras das Escrituras são auto corroborantes.
(1) Elas não podem ser “comprovadas” como palavras de
Deus apelando-se a alguma autoridade superior.
(a) Pois caso se apelasse a uma
autoridade superior (por exemplo, exatidão histórica ou coerência lógica) como
recurso para provar que a Bíblia é a Palavra de Deus, então a própria Bíblia
deixaria de ser a nossa autoridade mais alta ou absoluta e ficaria subordinada
em matéria de autoridade àquilo a que apelássemos a fim de provar que ela é a
Palavra de Deus.
(b) Se no final das contas apelamos à
razão humana, ou à lógica, ou à exatidão histórica, ou à verdade científica
como autoridade pela qual se demonstra que as Escrituras são as palavras de
Deus, então estamos pressupondo que a coisa para a qual apelamos é uma
autoridade superior às palavras de Deus e também mais verdadeira ou mais
confiável.
v) Objeção:
isso é um argumento circular.
(1) Alguém pode objetar que a afirmação
de que as Escrituras corroboram a si mesmas como palavra de Deus é um argumento
circular:
(a) Cremos que as Escrituras são a
Palavra de Deus porque elas reivindicam essa condição e cremos em sua
reivindicação porque as Escrituras são a Palavra de Deus.
(b) E cremos que as Escrituras são a
Palavra de Deus porque elas reivindicam essa condição, e assim por diante.
vi) Isso
não implica ditado de Deus como único meio de comunicação.
(1) Toda a parte precedente deste
capítulo afirmou que as palavras da Bíblia são palavras de Deus.
(a) Nesse ponto é necessária uma palavra
de advertência.
(i)
O
fato de que todas as palavras das Escrituras são de Deus não deve nos levar a
pensar que Deus ditou cada palavra das Escrituras aos autores humanos.
b) Portanto,
não crer em qualquer palavra das escrituras ou desobedecer a elas é não crer em
Deus ou desobedecer a Ele.
i)
A
divisão anterior afirmou que todas as palavras das Escrituras são de Deus.
(1) Consequentemente, não dar crédito ou
desobedecer a qualquer palavra das Escrituras é não dar crédito ou desobedecer
ao próprio Deus.
(2) Assim, Jesus pode repreender seus
discípulos por não crerem nas Escrituras do Antigo Testamento (Lc 24.25).
(3) Os crentes devem guardar e obedecer
às palavras dos discípulos (Jo 15.20: “...
se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa”).
(4) Os cristãos são incentivados a se
lembrar “do mandamento do Senhor e
Salvador, ensinado pelos [...] apóstolos” (2Pe 3.2).
(5) Desobedecer aos escritos de Paulo
tornava a pessoa:
(a) Passível de disciplina da igreja, tal
como excomunhão (2Ts 3.14)
(b) Punição espiritual (2Co 13.2-3),
(c) Inclusive punição por Deus
(aparentemente é esse o sentido do verbo na voz passiva “será ignorado”, em 1Co 14.38).
(6) Por outro lado, Deus se alegra em
todo aquele que “treme” diante de sua palavra (Is 66.2).
c) A
veracidade das escrituras
i) Deus
não pode mentir nem falar com falsidade.
(1) A essência da autoridade das
Escrituras está na sua capacidade de nos compelir a crer nelas e a elas
obedecer, fazendo que tal fé e obediência sejam equivalentes a fé e obediência
ao próprio Deus.
(2) Por esse motivo, é necessário
considerar a veracidade das Escrituras, pois crer em todas as palavras da
Bíblia implica confiança na completa veracidade das Escrituras em que cremos.
(3) Embora esse assunto vá ser discutido
mais a fundo quando considerarmos a inerrância das Escrituras, vamos tratá-la
rapidamente neste ponto.
ii) Portanto,
todas as palavras nas Escrituras são inteiramente verdadeiras e não contêm erro
em lugar algum.
(1) Já que as palavras da Bíblia são
palavras de Deus, e já que Deus não pode mentir nem falar falsamente, é correto
concluir que não há inverdades ou erros em qualquer parte das palavras das
Escrituras.
(a) “As palavras do SENHOR são palavras
puras, prata refinada em cadinho de barro, depurada sete vezes” (Sl 12.6).
(i)
Aqui
o salmista usa imagem vívida para falar da pureza não diluída das palavras de
Deus: não há imperfeição nelas.
(b) Também em Provérbios 30.5 lemos: “...
toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam”.
(i)
Não
são apenas algumas palavras das Escrituras que são verdade, mas cada palavra.
iii) As
palavras de Deus são o padrão definitivo da verdade.
(1) Em João 17 Jesus ora ao Pai: “...
santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).
(a) Esse versículo é interessante porque
Jesus não usa os adjetivos alÂthinos ou alÂthÂs (“verdadeiro”), que poderíamos
esperar, para dizer “tua palavra é verdadeira”.
(b) Ele usa um substantivo, alÂtheia
(“verdade”), para dizer que a Palavra de Deus não é simplesmente “verdadeira”,
mas é a própria verdade.
iv) Algum
fato novo poderia contradizer a Bíblia?
(1) Será que poderia ser descoberto algum
fato novo, científico ou histórico, que vá contradizer a Bíblia?
(a) Podemos dizer com confiança que isso
nunca acontecerá — isso, na verdade, é impossível.
(b) Se algum suposto “fato” descoberto
contradiz as Escrituras, então (se entendemos corretamente as Escrituras) esse
“fato” deve ser falso, pois Deus, o autor das Escrituras, conhece todos os
fatos verdadeiros (passados, presentes e futuros).
(c) Nunca virá à tona nenhum fato que
Deus não conhecesse eras atrás e não tenha levado em conta quando fez com que
as Escrituras fossem produzidas.
(d) Cada fato verdadeiro é algo que Deus
conhece desde a eternidade e que, portanto, não pode contradizer o que o Senhor
fala nas Escrituras.
d) As
escrituras em forma escrita são nossa autoridade final
i)
É
importante perceber que a forma final em que as Escrituras permanecem como
autoridade é a forma escrita.
(1) Foram as palavras de Deus escritas em
tábuas de pedra que Moisés depositou na arca da aliança.
(2) Mais tarde, Deus ordenou a Moisés e
aos profetas que o seguiram que escrevessem suas palavras em um livro.
(3) E foi a Escritura em forma escrita
(graphÂ) que Paulo disse ser “inspirada
por Deus” (2Tm 3.16).
(4) De modo semelhante, são os escritos
de Paulo que são “mandamento do Senhor”
(1Co 14.37) e que poderiam ser classificados com “as demais Escrituras” (2Pe 3.16).
REFERÊNCIA:
Teologia
Sistemática. Wayne Grudem, Edições Vida Nova. Parte 1 - A Doutrina da Palavra de Deus – p. 23 - 96
A continuidade deste
estudo segue amanhã. Não deixe de crescer na graça e no conhecimento de nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo.
DEUS
TE FAÇA FELIZ!!!